CAMPO GRANDE
Em 2022, pela primeira vez na curta história de Mato Grosso do Sul, candidato dispensou obviedades e se propôs a elevar o nível do debate eleitoral para que os eleitores tivessem acesso a propostas concretas, abstraindo-se de questões estéreis e dos cansativos arranca-rabos sobre condutas e comportamentos.
Em 27 de dezembro de 2021, o MS em Brasília apresentou ao eleitor sul-mato-grossense o desconhecido secretário de Infraestrutura do Estado, Eduardo Riedel (ver aqui). Ao fazer menção ao fato de ser o único pré-candidato a governador fora do establishment político, o site utilizou a expressão “outsider”.
“Provável pré-candidato ao Governo do Estado em 2022, o secretário de Infraestrutura, Eduardo Riedel, é uma figura que passou a ser chamada de “outsider” na última década – personagem fora do mundo político que, em algum momento da vida, se interessa por ter mais participação nos destinos de um país, Estado ou cidade”, diz trecho da reportagem sobre o perfil do então pré-candidato governista.
Nascia ali a candidatura de Riedel com visão diferente sobre administração pública, sobretudo, em relação ao produto da gestão, que é a busca por resultados em todas as áreas. Editar medidas, lançar programas ou anunciar investimentos, sem resultados, não passam de ações mal executadas, ensinou o então candidato.
Nascia ali a candidatura de Riedel com visão diferente sobre administração pública, sobretudo, em relação ao produto da gestão, que é a busca por resultados
Mas até que ponto o que se disse antes da pré-campanha seria levado ao debate eleitoral? Afinal, essas questões teriam que ser anunciadas à população, onde está o conjunto do eleitorado apto a escolher seus representantes. Havia dúvida.
O momento chegou e Eduardo Riedel manteve a postura de antes, levando sua ideia aos eleitores de Mato Grosso do Sul, em confronto com os programas de governo dos seus adversários, a maioria deles moldados politicamente pelo sistema. As credenciais antissistema do outsider estavam postas, mesmo com apoio governista.
Sem se dar conta, o Eduardo de sobrenome difícil elevou o nível de entendimento das suas propostas, o que obrigou seus adversários a mudarem de rota em pleno voo. Jogou limpo. Muitos deles nem projeto tinha, como o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD). Sorrindo sem parar, apertando mãos, pegando crianças no colo e até forçando choro, Trad foi presa fácil para o outsider Eduardo Riedel.
Sem se dar conta, elevou o nível sobre o entendimento das suas propostas para Mato Grosso do Sul, o que obrigou seus adversários a mudarem de rota em pleno voo
Embora desconhecido, Eduardo Riedel causava boa impressão. Não se constrangeu ao falar em pequenas reuniões para 20 ou 30 pessoas. Logo, estava falando para multidões em encontros realizados no comitê eleitoral do candidato, na Rua Ceará, em Campo Grande. No horário eleitoral gratuito, mensagens diretas, sem maquiagens.
O outsider tinha visão mais global dos problemas do Estado e foi isso que fez com que a candidatura dele saísse de inexpressivos 3% e 4% nas pesquisas, chegasse ao segundo turno e vencesse as eleições.
Riedel venceu apenas porque apostou em uma campanha direta, sem obviedades, focada no destino da sua mensagem? Não. Houve vários outros fatores. Fato é que, qualquer outro candidato apoiado pelo governador Reinaldo Azambuja — que vinha de duas boas gestões, frise-se — não teria vencido as eleições. O ingrediente a mais proposto por Riedel — de elevar o nível do debate político — fez a diferença.
O ingrediente a mais proposto por Riedel — de elevar o nível do debate político — fez a diferença
À luz dessas evidências tem-se uma visão de que as próximas eleições municipais, especialmente em Campo Grande e Dourados, além das outras cidades médias, tendem a seguir essa tendência. Quem apostar na velha fórmula do sorriso bonito e largo, dos tapinhas nas costas, dos abraços e crianças no colo, ou das superproduções em estúdio caríssimos, com profissionais bem pagos se acotovelando, dará com os burros n’água.
Essas percepções deixam claras que candidato outsider tem maior probabilidade de concretizar uma grande mudança política na comparação com seu oponente, nascido e criado dentro do establishment. O objetivo de um político é dizer coisas populares e decretar políticas populares. Riedel conseguiu transmitir a primeira ideia. A segunda está em execução. O julgamento final da gestão é logo ali.