CAMPO GRANDE
Há quem garanta que Jair Bolsonaro é um sujeito com parafuso a menos na cabeça, que seria motivo dos seus arroubos, linguajar chulo e desproporcional e porque não dizer de temperamento instável.
É possível também defender uma outra tese: a de que Bolsonaro — comparado à deputada Carla Zambelli (PL-SP), à ex-deputada Joice Hasselmann (PSDB-SP), aos ex-deputados Loester Trutis (PL-MS) e Daniel Silveira (PTB-RJ) e ao senador Marcos do Val (Podemos-ES) — não passa de um senhor bem-comportado.
Se for analisar com rigor, de fato, é possível concluir que o ex-presidente tem mais juízo do que muitos dos seus ditos aliados. Prova maior esteve nos momentos de angústia após o resultado das eleições presidenciais em 2022, na derrota para o petista Luiz Inácio Lula da Silva, ex-condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
A pressão para que Bolsonaro convocasse o Exército para golpe de Estado era fortíssima. Ouvia-se esses argumentos vindos de todos os lados. Havia inconformismo do bolsonarismo com o resultado das eleições. A resiliência do presidente, contudo, foi invejável.
Se for analisar com rigor, de fato, é possível concluir que o ex-presidente tem mais juízo do que muitos dos seus ditos aliados
Figuras semelhantes às citadas acima criam mais problemas ao ex-presidente do que os próprios adversários. Seus filhos, por exemplo, são usina de encrencas. Dois casos, dias antes do segundo turno em 2022, podem ter atrapalhado Bolsonaro: os tiros de Roberto Jefferson contra policiais federais, no Rio de Janeiro, e a briga de rua em que Zambelli se envolveu, em São Paulo, quando saiu correndo atrás de suposto agressor com arma de fogo nas mãos. Destemperos gravíssimos.
Passados mais de oito meses, surgiram ontem (2) mais evidências contra a deputada. Embora a operação de busca e apreensão da Polícia Federal em seu gabinete na Câmara dos Deputados e no seu apartamento em Brasília tenha sido autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes (STF), que faz cruzada cega contra o bolsonarismo, há fatos bastantes que comprovam a falta de juízo da parlamentar.
Zambelli, pasme, encontrou-se com o hacker da Vaza Jato, Walter Delgatti, preso em julho de 2019, durante a Operação Spoofing contra organização criminosa que praticava crimes cibernéticos. Ela também teria levado o hacker para se encontrar com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em agosto de 2022, em meio à campanha eleitoral. Surreal.
Zambelli, pasme, encontrou-se com o hacker da Vaza Jato, Walter Delgatti, preso em julho de 2019, durante a Operação Spoofing contra organização criminosa
As ações de Carla Zambelli chegaram a Mato Grosso do Sul em 2022 da pior forma possível. Foi ela quem colocou o ex-deputado Loester Trutis no colo do então presidente. Trutis nunca foi fiel a Bolsonaro e os fatos demonstram claramente. Em 2019, o PSL da Câmara rachou entre aliados de Bolsonaro e do presidente nacional da sigla, deputado Luciano Bivar (PE).
Trutis, no início, posicionou-se com o grupo do presidente, mas trocou de lado e acabou votando pela destituição do deputado Eduardo Bolsonaro da liderança do PSL, dando o cargo à igualmente destrambelhada Joice Hasselmann, aliada de Bivar, que disputava o controle do partido com o presidente Bolsonaro.
Em março de 2022, após série de filiações ao PL, Zambelli criou um grupo chamado “Liga da Lealdade”, com cerca de 20 deputados, entre eles Loester Trutis, o mesmo que ajudou a derrubar Eduardo Bolsonaro da liderança do PSL na Câmara, em dezembro de 2019.
Trutis já era réu no Supremo Tribunal Federal por ter supostamente forjado o próprio atentado, em fevereiro de 2020. O caso está perto de ser julgado pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, para onde o processo foi encaminhado no início do ano em razão do afastamento do foro privilegiado do parlamentar, que não se reelegeu.
As ações de Carla Zambelli chegaram a Mato Grosso do Sul em 2022 da pior forma possível. Foi ela quem colocou o ex-deputado Loester Trutis no colo do então presidente
Com aquela postura, Zambelli acabara de jogar Trutis novamente no colo do então presidente Bolsonaro. A tresloucada chegou a vir a Campo Grande com parte desse grupo, mas não conseguiu sequer se manifestar em evento na Câmara de Vereadores. Houve protestos de grupos ligados ao então deputado estadual Capitão Contar, que virou candidato a governador.
As eleições municipais se avizinham e os eleitores sul-mato-grossenses têm o direito de recusar nomes como o de Loester Trutis, sua esposa, membros da família Trad, entre outros. Sem falar na senadora Soraya Thronicke (Podemos).
É tempo de o ex-presidente se preocupar com a conduta moral de muitos que estiveram e estarão do seu lado quando for apontar o dedo para falcatruas da política. É preciso estar em boa companhia e ter critério mais rigoroso ao avalizar candidaturas a fim de não manchar a imagem da direita sul-mato-grossense.
Cabe bem a um líder nacional ser bem orientado.
Por aqui, há aliados confiáveis para transmitir raios-x completo do cenário político. Cite-se o deputado federal Dr. Luiz Ovando e a senadora Tereza Cristina, ambos do PP, e o ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB), segundo colocado para governador em 2022. Todos eles com três eleições nas costas na era Bolsonaro (2018, 2020 e 2022).
Estão calejados, têm postura e histórico de fidelidade às causas da direita.