POR ALEXSANDRO NOGUEIRA (*)
A repercussão internacional dos ataques da organização terrorista Hamas contra o Estado de Israel trouxe de volta uma guerra de narrativas sobre o conflito milenar entre os povos Árabes e Judeus, na Palestina.
Enquanto parte da imprensa e líderes políticos mundiais se solidarizam com a situação da comunidade isralense, uma minoria brasileira progressista, cultivada no caldo do ressentimento social, tenta mitigar a barbárie e a covardia do Hamas, a partir de seus conhecimentos superficiais sobre a guerra étnica no Oriente Médio.
Presos à tirania das ideias seja de ordem ideológica ou partidária, essa casta politicamente correta justifica o massacre de mulheres e crianças israelitas, em uma espécie velada de antissemitismo secundário, expressando a necessidade visceral de culpabilizar a vítima por esses crimes inomináveis.
Leio e releio textos e comentários nas redes sociais e só posso sentir uma mistura de repugnância com vergonha alheia. Nas publicações mais cretinas, afirmam que os Judeus não reconhecem os Palestinos como um povo, os líderes israelenses que construíram o muro são comparáveis aos chefes Africanos do Apartheid e terminam a série de divagações acusando as famílias judias de terem invadido a Palestina, há mais de 200 anos.
Presos a tirania das ideias seja de ordem ideológica ou partidária, essa casta politicamente correta justifica o massacre de mulheres e crianças israelitas
Entendo o apego às minorias, o desapego ao dinheiro como uma maneira de promover a autoestima, o marketing pessoal e ganhar curtidas nas redes. Mas seria aconselhável aos progressistas do Instagram, Twitter e Facebook não cederem à tentação de aplicar clichês e slogans em um dos mais complexos capítulos da história humana.
Partindo do pressuposto que essas pessoas estão simplesmente mal informadas, convém desmontar essas involuntárias ficções com base nos fatos históricos, de forma desapaixonada e factual.
Vamos aos fatos:
1 – No final do século 19, o escritor Mark Twain esteve na Palestina e relatou: “Não há uma única vila solitária em toda sua extensão – nem que se ande em qualquer direção, não se verá dez humanos”. Foram os ingleses, por sua vez, que resolveram chamar essa região de ‘Palestina’ apenas por motivos topográficos. O termo só começou a ser usado às vésperas da Primeira Guerra Mundial.
2 – Os judeus estabeleceram em 1878 a primeira comunidade na Palestina: Petach Tivka. Quatro anos depois, começou a primeira onda de imigração judaica. Terras que foram compradas, não adquiridas por meio de invasões.
3 – Em 1948, a ONU resolveu partilhar a Palestina criando o Estado judeu (20%) e outro árabe (80%). Os países árabes não concordaram com a criação do território israelense e a guerra pela independência começou.
4 – Para as nações árabes, Israel é um fenômeno temporário. Uma continuação do estereótipo do judeu errante e apátrida, fruto de uma ação de europeus envergonhados com o massacre do holocausto.
Em 1948, a ONU resolveu partilhar a Palestina criando o Estado judeu (20%) e outro árabe (80%). Os países árabes não concordaram com a criação do território israelense e a guerra pela independência começou
5 – Em 2000, durante uma reunião na residência americana de Camp David, Israel estava disposto a concessões históricas impensáveis: o reconhecimento de um Estado palestino independente em Gaza e na Cisjordânia; a divisão de Jerusalém como capital dos dois Estados; e até o retorno de uma parcela de refugiados palestinos a Israel e compensações financeiras para os restantes (que viveriam, logicamente, no futuro Estado palestino).
6 – Arafat, em gesto dificilmente classificável, recusou! Para melar o acordo exigiu o retorno de todos os refugiados a Israel (4 milhões), uma forma elegante de convidar o estado judaico a suicidar-se demograficamente (Israel tem uma população de 8 milhões, com 6 milhões de judeus e 1,5 milhões de árabes).
7 – A barreira de segurança (muro) só começou a ser erguida em 2002 não para isolar os palestinos, mas para proteger o povo judeu de sucessivos ataques que começaram na segunda intifada (2002-2005). O muro diminuiu drasticamente o número de atentados contra civis, razão pela qual ainda é mantido pelo governo israelense.
8- Algumas organizações não governamentais e países como os Estados Unidos e Reino Unido adotam um sistema rígido de proteção contra ataques terroristas, mas quando o governo israelense faz uso de um modelo parecido provoca comoção mundial.
9 – Há uma curiosa aliança entre setores da esquerda dita progressista com reacionários fundamentalistas sob o manto de movimento humanitário. Acadêmicos e partidos políticos de origem marxista aplaudem discursos esquizofrênicos como do iraniano Ahmadinejad que fala em “varrer Israel do mapa” ou nos tempos do presidente egípcio Nasser que prometia “jogar os judeus ao mar”.
Há uma curiosa aliança entre setores da esquerda dita progressista com reacionários fundamentalistas sob o manto de movimento humanitário
10 – Hoje, há uma mutação na natureza do conflito, que deixou de ser apenas um enfrentamento secular entre Israel e Autoridade Palestina e passou a contar com grupos fundamentalistas patrocinados pelo Irã, que luta explicitamente pelo extermínio do Estado judaico.
11- Nesse sentido, não existe mais uma guerra palestino-israelense. Há ordens de ataque partindo de satélites iranianos que atacam a partir de Gaza, do sul do Líbano e da Palestina para aniquilar Israel.
12 – Outro importante reparo a ser feito é lembrar que o Egito mantém um bloqueio de onze quilômetros com Gaza muito mais rígido que o israelense. O Líbano, por sua vez, proíbe 400 mil colonos palestinos de frequentar universidades, comprar moradia e ter acesso ao sistema de saúde libanês. Lá, os imigrantes palestinos necessitam de permissão para deixar suas cidades e segundo a Anistia Internacional são considerados cidadãos de segunda categoria.
Assim, resta-nos esperar que as futuras gerações possam olhar para o conflito mais bem informadas. O silêncio dos intelectuais (principalmente europeus) é um desserviço e um equívoco à democracia. Tanto os palestinos como os israelenses merecem viver em segurança, paz, com avanço econômico e tecnológico. Enquanto isso não acontece, membros do Governo do Brasil nos brindam com suas pérolas sobre o conflito, ao mesmo tempo em que ouvimos líderes israelenses contar piadinhas a respeito da participação brasileira na ONU. Tim-tim!
(*) Jornalista em Campo Grande (MS)
Contato: artigotexto@gmail.com
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