CAMPO GRANDE
Com as ações do Governo do Estado focadas no equilíbrio das contas públicas e indicadores econômicos, fiscais e sociais entre os mais bem avaliados do país, Mato Grosso do Sul tende a experimentar boom de crescimento nos próximos anos com a chegada da Rota Bioceânica.
“Estamos preparando o Estado para absorver as grandes oportunidades a fim de que nosso crescimento seja cada vez mais sólido e robusto”, explica o governador Eduardo Riedel (PSDB), ao comentar a implementação da Rota Bioceânica, que cruzará grande parte do Estado depois que estiver pronta para uso do transporte de cargas e passageiros, por exemplo.
O futuro trajeto com destino a países da América do Sul, como Paraguai e Chile, além de destinos na Ásia, encurtará o caminho dos produtos brasileiros em cerca de 7 mil quilômetros. É economia de tempo e dinheiro com frete. Daí a razão de especialistas entenderem que a rota poderá gerar “benefícios imensos” ao Brasil e, principalmente, a Mato Grosso do Sul.
Presidente Temer
Para o ex-senador Waldemir Moka (MDB), responsável pela reabertura da discussão para a implementação do corredor bioceânico no governo do presidente Michel Temer (MDB), em 2016, o Brasil deve investir de “olhos fechados” nesse empreendimento.
“Nunca tive dúvida de que essa rota é o começo de uma grande virada do nosso Estado em relação a crescimento. Por isso não medimos esforços para que o presidente Michel Temer desse seu apoio para o início de tudo, o que está se concretizando com o apoio do governador Riedel (Eduardo Riedel)”, conta Moka, que destaca o papel de articulação do então coordenador de Assuntos Econômicos Latino-americanos do Ministério das Relações Exteriores, João Carlos Parkinson.
“Nunca tive dúvida de que essa rota é o começo de uma grande virada do nosso Estado em relação a crescimento” — Waldemir Moka, ex-senador de MS
Especialistas da área econômica e logística já apontam algumas tendências e perspectivas do ponto de vista econômico, com a implantação desta nova alternativa para alcançar o mercado asiático. A professora Doutora Luciane Cristina Carvalho, coordenadora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), estuda o projeto há cinco anos. Para ela, a Rota Bioceânica terá como principal atrativo a inclusão de produtos locais.
“Há perspectiva de ampliar as exportações dos produtos que já são comercializados com o continente asiático e que representam cerca de 50% das exportações de Mato Grosso do Sul. Além disso, haverá uma maior integração regional com os países vizinhos”, garante a pesquisadora.
Na avaliação da pesquisadora, existe uma tendência do aumento na comercialização de carnes, alimentos processados, pescados, vestuários, celulose e minérios. “Existe ainda a possibilidade da entrada de novos produtos na cesta da balança comercial. Isso vai depender também do empreendedorismo no estado e da oferta, por exemplo, da economia criativa”, avalia.
“Há perspectiva de ampliar as exportações dos produtos que já são comercializados com a Ásia e que representam cerca de 50% das exportações de MS” — Luciane Cristina Carvalho, coordenadora do curso de Ciências Econômicas da UFMS
Diversos negócios
De acordo a professora, o corredor vai proporcionar ainda a criação de diversos empreendimentos, como por exemplo, o estacionamento de repouso. “Já existe um instalado por uma distribuidora em Porto Murtinho. Mas, poderão surgir outros para suportar o fluxo de trânsito e a criação de postos alfandegários e espaços para as agências intervenientes do comércio exterior. Em Campo Grande, há expectativa que a capital se torne um hub logístico”, analisa.
O potencial econômico pode ser medido pelo volume de comércio exterior do Estado. De janeiro a setembro deste ano, as exportações sul-mato-grossenses totalizaram US$ 7,2 bilhões e as importações, US$ 2 bilhões, superávit de US$ 5,2 bilhões. Em relação ao mercado asiático a conta é mais expressiva, alcançando US$ 3,2 bilhões para países como a China, Taiwan, Tailândia e Hong Kong.
Embora a implementação esteja com ritmo esperado, há desafios a serem superados. Em outubro, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e a União Internacional dos Transportes Rodoviários promoveram em Campo Grande o Seminário “A utilização de instrumentos de trânsito internacional para a dinamização do Corredor Bioceânico”.
As exportações de MS para China, Taiwan, Tailândia e Hong Kong totalizaram US$ 3,2 bilhões entre janeiro e setembro de 2023
Desafios
O ministro João Carlos Parkinson de Castro destacou em palestra as possibilidades do novo corredor internacional e os benefícios da adesão do Brasil à Convenção do Sistema de Trânsito Internacional da ONU que permite o transporte de mercadorias através de vários países. A criação da rota, para ele, é a concretização da reconfiguração geoeconômica brasileira.
O traçado tortuoso da rota pelos Andes, segundo o ministro, com altitudes superiores a 4 mil metros, com subidas e descidas, dificulta a movimentação de grandes carretas com cargas a granel. Na avaliação do diplomata brasileiro, a carga a granel só será possível se tiver avanços com a integração ferroviária.
“Para isso, é necessário, a cooperação de países como a Argentina, que promova investimentos no trecho de 50 km de Yacuiba (Bolívia) até Salta (Argentina) e que precisam ser reabilitados para o escoamento através da Malha Oeste, Ferrovia Boliviana Oriental e Belgrano Cargas Norte”, complementa.
A criação da rota, para o ministro Parkinson, é a concretização da reconfiguração geoeconômica brasileira
Parkinson avalia que a rota pode trazer uma redução de custos de cerca de 49% podendo chegar até 68%, em comparação com o caminho tradicional pelo Atlântico, via os portos de Santos e Paranaguá. Os produtos elencados, por ele, para atravessarem, via Rota Bioceânica, são as frutas, crustáceos, conservas, pescados, bebidas, açúcar, arroz, sucos e complexos de soja e milho.
Competitividade
Já na avaliação do professor Francisco Bayardo Mayorquim Horta Barbosa, doutorando em Engenharia da Produção e docente da UFMS, as empresas que optarem em distribuir seus produtos pela Rota Bioceânica vão ampliar mais facilmente suas operações, provavelmente, em função de um frete mais competitivo.
“A rota se tornará competitiva para produtos como a carne bovina. Hoje, a carne produzida em Mato Grosso do Sul utiliza três caminhos rodoviários para alcançar o Chile. O primeiro, via Foz do Iguaçu, no Paraná; o segundo, via Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina; e a terceira via é por meio de São Borja, no Rio Grande do Sul. Praticamente, 50% sai pelo estado gaúcho até chegar ao Chile. Não estamos aqui nem comentando a carne que segue para a Ásia pelo porto de Paranaguá”, argumenta.
Com informações da Secretaria-Executiva de Comunicação de MS