CAMPO GRANDE
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) denunciou, criminalmente, o deputado estadual de Mato Grosso do Sul Neno Razuk (PL) e mais dez pessoas por vários crimes, como exploração de jogo de azar, corrupção e organização criminosa.
A denúncia foi apresentada em 19 de dezembro. No dia 20, o Judiciário entrou em recesso. Isso não impede o andamento, pois há plantão nas varas judiciais.
Todos os envolvidos são acusados de integrar um grupo criminoso que agia ilegalmente para tomar o controle do jogo do bicho em Campo Grande.
As informações são da jornalista Marta de Jesus, do site Primeira Página em Mato Grosso do Sul.
O Gaeco precisou correr contra o tempo para apresentar a denúncia, por haver investigados presos, o que diminui os prazos.
Conforme a reportagem apurou, a denúncia ainda não teve apreciação pela Justiça. Nessa fase, o magistrado responsável pode transformar o parlamentar e os outros denunciados em réus, ou rejeitar a peça acusatória.
Os autos estão aguardando a análise da 4ª Vara Criminal de Campo Grande, conforme descoberto pela reportagem.
As 11 pessoas são acusadas pelo Gaeco de “constituir uma organização criminosa dedicada à prática dos crimes de roubo majorado, exploração de jogos de azar, corrupções, entre outros”.
Ao deputado estadual é atribuída a chefia da organização criminosa.
Neno, segundo as conclusões do Gaeco, trouxe de sua região, Dourados, aliados para a investida no jogo do bicho em Campo Grande, em razão do vácuo deixado pela operação Omertà, responsável por levar à prisão o clã Name e seus funcionários – organização que durante anos dominou a exploração do jogo ilegal na cidade, conforme as investigações.
“A investigação revelou que a organização criminosa liderada por ROBERTO RAZUK FILHO (“NENO RAZUK”) tem praticado crimes de toda ordem, em especial roubos a mão armada e exploração do jogo do bicho, perturbando intensamente a paz social dos munícipes de Campo Grande/MS e de outras cidades do Estado” — Gaeco na peça em que chegou a pedir prisão de Neno Razuk
Na representação em que o grupo de promotores pediu à Justiça ordem para prisões e buscas da primeira fase da operação Successione, foi incluída solicitação de mandado de restrição de liberdade para Neno Razuk, porém o juiz entendeu não ser possível, em razão da “imunidade formal”, ou seja, o fato de ser parlamentar, com foro privilegiado. Esse entendimento só valeu para o pedido de prisão.
As outras medidas foram acatadas, como por exemplo a busca em endereço onde Neno mora em Campo Grande. Nesse caso, vale a análise já pacificada de se tratar de crime sem relação com o exercício da função pública, assim como ocorreu com o também deputado estadual Jamilson Name (PSDB), em réu em ações derivadas da Omertà.
O início
O estopim da acusação contra Neno e os outros 10 denunciados foram três roubos ocorridos no mesmo dia, em Campo Grande, em outubro deste ano. As vítimas são recolhedores que trabalhavam para um grupo dedicado à exploração do jogo do bicho, vindo de São Paulo. A função deles era coletar os valores envolvidos nas apostas dos “rivais”.
Ao todo, 12 mil reais foram levados dessas pessoas, conforme consta dos relatórios do Gaeco, que serviram de base para o caderno de acusação.
As 11 pessoas são acusadas pelo Gaeco de “constituir uma organização criminosa dedicada à prática dos crimes de roubo majorado, exploração de jogos de azar, corrupções, entre outros”
Além do dinheiro roubado, diante das revelações dos levantamentos, foi evidenciado que os integrantes do grupo paulista eram cooptados para trabalhar para a organização de Neno.
Tudo veio à tona no dia 16 de outubro, quando equipe do Garras (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), ao iniciar a investigação de um dos três roubos, deparou-se com um imóvel, no bairro Monte Castelo, em Campo Grande, onde funcionava um QG do jogo do bicho.
No lugar, foram encontradas 700 máquinas parecidas com as de cartão de crédito, adaptadas para registro de apostas no bicho. Foram achadas também notas fiscais de compra recente de máquinas, em nome de um dos homens que vieram as ser presos no dia 5 de dezembro, quando foi deflagrada a operação Successione.
Outros dois homens que estavam no lugar, dois policiais militares da reserva, foram reconhecidos como autores dos roubos.
Um deles, Gilberto Luiz dos Santos, conhecido como “Barba” ou “Coronel”, era nomeado como assessor parlamentar de Neno Razuk na Alems.
Ele só foi exonerado depois de ser preso, assim como outros dois servidores nomeados no gabinete do deputado.
Além dessa ligação de Neno com envolvidos no esquema descoberto, o monitoramento do Gaeco também identificou que veículos usados para os roubos foram usados para visitas à casa do parlamentar, em um condomínio de luxo.
“Tal foi sua participação que os assaltantes e demais envolvidos nos roubos dispunham livre trânsito no imóvel onde reside no residencial Damha III, inclusive com cadastro facial para ilimitadas entradas e saídas, tendo sido apurada a visitação desses comparsas inclusive antes e depois dos crimes, conforme se extraem dos documentos fornecidos ao GAECO pelo condomínio” — Gaeco em representação para a realização de busca e apreensão na casa do deputado
Além disso, anota o Gaeco, pelo menos um dos carros empregados nos assaltos, um Polo foi alugado no nome do parlamentar.
Na Polícia Civil, a apuração começou no Garras, mas depois foi para outras duas unidades, o Dracco (Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado), onde já corria apuração sobre o jogo do bicho, e a Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos), onde ficaram os casos de assalto. Nenhum dos responsáveis fala sobre os inquéritos.
O advogado João Arnar, que representa Neno Razuk, disse não ter conhecimento da denúncia e por isso não faria comentários.
Nesta quinta-feira (28), ao se manifestar sobre o teor das investigações do Gaeco, Arnar disse que seu cliente é inocente e que acredita piamente na absolvição, em eventual transformação da denúncia em processo criminal.
Os nomes dos denunciados, além de Neno:
• Diego Sousa Nunes: é assessor parlamentar de Neno Razuk (PL). Foi encontrado no ponto de concentração do jogo do durante diligência feita pelo Garras em outubro. Aparece na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos roubos de malotes com dinheiro do jogo do bicho sob investigação.
• José Eduardo Abdulahd: conhecido como “Zeizo”, é um empresário de Ponta Porã que já esteve envolvido em operações contra jogos como, por exemplo, as operações “Xeque-Mate” e “Gato Preto”. Ele foi encontrado no QG do jogo do bicho durante diligência feita pelo Garras. Também aparece na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos assaltos em questão. Está foragido.
• Manoel José Ribeiro: sargento da reserva da Polícia Militar, conhecido como “Manelão”, é assessor parlamentar de Neno Razuk. Foi encontrado na casa onde estavam as máquinas apreendidas em outubro. Além disso, foi reconhecido pelas vítimas como executor de dois dos três roubos apurados. Por último, figura na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos roubos.
• Gilberto Luiz dos Santos: major da Polícia Militar, chamado de G.Santos, “Coronel” ou “Barba”. É assessor parlamentar de Neno Razuk, suposto mandante dos roubos, de acordo com a investigação. Foi encontrado no ponto de concentração do jogo do bicho durante a ação do Garras. Aparece na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos roubos. Além disso, foi flagrado pelo Gaeco conduzindo o mesmo veículo usado nos roubos.
• Julio César Ferreira dos Santos: filho de Gilberto Luiz. Estava no QG que armazenava máquinas usadas para registrar apostas. Conforme o trabalho do Gaeco, está na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos assaltos a operadores do jogo ilegal.
• Mateus Junior Aquino: foi usado por Gilberto Luiz para ameaçar uma das vítimas, indica a investigação. Conforme apurado, era vinculado a outro grupo que explorava o jogo do bicho em Campo Grande, mas recentemente filiou-se à organização criminosa supostamente comandada por Razuk.
• Taygor Ivan Moreto Pelissaro: estuda Medicina em Ponta Porã, estava no “QG” e foi pego em armado, em Ponta Porã, em 19 de outubro, três dias depois da apreensão das máquinas.
• Tiano Waldenor de Moraes: foi encontrado no ponto de concentração do jogo do bicho durante diligência do Garras. Foi identificado em filmagens feitas por câmeras de segurança como o executor de um dos roubos. Está foragido.
• Valmir Queiroz Martinelli: suspeito de ser o responsável pela aquisição de maquinário, entre outros acessórios necessários ao funcionamento do jogo do bicho. Esse comércio ocorre em meio clandestino. Foi encontrado na casa do jogo do bicho em 16 de outubro. Durante as investigações foi flagrado pelo Gaeco conduzindo um dos veículos usados nos roubos.
• Luiz Paulo Bernardes Braga: foi encontrado na casa do bairro Monte Castelo durante diligência feita pelo Garras. Estaria morto, e, segundo a investigação jornalística do Primeira Página, não foi esclarecida sua participação no esquema.
Fonte: www.prmeirapagina.com.br