COLUNA VAPT-VUPT
O presidente Lula e dois ministros, além do embaixador chinês no Brasil, Zhu Qingqiao, estiveram em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, sexta-feira passada para acompanhar o embarque do primeiro carregamento de carne bovina para a China.
As autoridades federais foram recepcionadas pelo governador do Estado, Eduardo Riedel, secretários e políticos locais, além do empresário Wesley Batista que, com o irmão Joesley, controlam a JBS, uma das empresas que denunciou a corrupção do PT à Operação Lava Jato.
A solenidade foi marcada pelo rigor em relação à presença de público, escolhido criteriosamente pela organização do evento, e boicote de entidades do agronegócio de Mato Grosso do Sul. Apenas políticos e pessoas indicadas por eles puderam se aproximar de Lula, além de alguns funcionários da JBS.
A solenidade foi marcada pelo rigor em relação à presença de público, escolhido criteriosamente pela organização do evento, e boicote de entidades do agronegócio
Marketing e comunicação do governo federal exploraram bem a abertura do mercado chinês ao Brasil. As fotos da Presidência foram todas com ângulo fechado para não mostrar grande parte das cadeiras vazias. Lula não queria aparecer para o mundo sendo vaiado.
Além dessa questão, diferentemente do que afirmaram aliados do presidente, o embarque de carne bovina de Mato Grosso do Sul para o país asiático é filho de vários pais e mães, a quem se pode chamar de “tiquinho”. Tem um pouco de cada um. É falso, portanto, atribuir exclusivamente ao atual governo a concretização da parceria comercial com os chineses.
A começar pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro, cuja pasta de Agricultura foi comandada pela ministra Tereza Cristina, hoje senadora, e dos governadores Eduardo Riedel e Reinaldo Azambuja, atual e governador anterior de Mato Grosso do Sul.
A exportação de produtos de origem animal não é regulada simplesmente pelas boas relações entre os futuros parceiros. Vai além de apertos de mãos, abraços e tapas nas costas. Muito mais que afinidade ideológica, é regida por rigorosas normas internacionais, sem as quais nenhum país pode vender seus produtos para o outro.
A exportação de produtos de origem animal não é regulada simplesmente pelas boas relações entre os futuros parceiros
As regras da Organização Mundial de Saúde Animal, por exemplo, são o terror dos países exportadores. É o organismo referência para orientação e avaliação dos serviços veterinários dos países que firmam acordos de comércio internacional.
Obedecer a essas recomendações é importante para dar credibilidade ao serviço veterinário nacional, à sustentabilidade do agronegócio brasileiro e à saúde única. Os Estados observam ainda a uma série de códigos sobre as boas práticas para criação, transporte e abate de animais de produção.
As milhares de peças de carnes nobres, entre elas picanha, embarcadas para a China teriam que ser distribuídas nas periferias das cidades brasileiras, caso promessas de campanhas tivessem que ser cumpridas por decisão judicial, digamos.
Durante a campanha eleitoral em 2022, Lula prometeu que o povo voltaria a comer picanha: “Eu vou falar uma coisa aqui: Nós vamos voltar a comer picanha, aquela parte com aquela gordurinha, assim, passada na farofa… A gente mastigava aquilo, tomava uma cervejinha… É tudo que o povo quer…”.
Mato Grosso do Sul pode abater até 2,3 milhões de cabeça de gado por ano, contra os 467 mil registrados até então
Reabrir mercados é tarefa das mais difíceis para os Estados. Em Mato Grosso do Sul, um dos maiores exportadores de carnes bovinas do país, foram habilitados seis novos frigoríficos, ampliando de 11% para 57% o potencial de embarque para a China. De acordo com o Serviço de Inspeção Federal (SIF), o Estado pode abater até 2,3 milhões de cabeça de gado por ano, contra os 467 mil registrados até então.
“Nós estamos levando alimento de qualidade para o mundo. Mato Grosso do Sul é um Estado que contribui para o crescimento do Brasil. Temos a terceira menor taxa de desemprego do país e vamos acabar este mandato erradicando a pobreza extrema, que hoje já é a segunda menor taxa do país”, declarou o governador Eduardo Riedel, durante discurso na solenidade com a presença de Lula.
Mato Grosso do Sul foi escolhido por Lula para fazer o marketing do governo porque é referência na exportação de carne bovina. A unidade da JBS em Campo Grande será a maior planta frigorífica da América Latina, com produção diária de 440 toneladas de carne e 136 toneladas de hambúrgueres. O local foi o primeiro frigorífico visitado pelos chineses em 2018, durante o governo Michel Temer (MDB) e está entre as 38 plantas habilitadas em 12 de março deste ano.
Mato Grosso do Sul foi escolhido por Lula para fazer o marketing do governo porque é referência na exportação de carne bovina
O trabalho do governo federal — de Michel Temer, passando por Bolsonaro e chegando a Lula — tem o reconhecimento do governo de Mato Grosso do Sul. Nesse período, foi o Estado que mais se beneficiou das habilitações de unidades produtoras de carnes para exportação.
Tais conquistas não ocorreram com simples balançar de varinha mágica. Devem-se há anos de trabalho duríssimo, desenvolvendo ações sanitárias para tornar o mercado local, acima de tudo, livre de qualquer doença, o que amplia o número de países interessados na compra de carne bovina produzida em Mato Grosso do Sul.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público