EMANUEL ALMEIDA, DE BRASÍLIA
Uma reviravolta pode mudar o cenário das eleições municipais nos dois maiores colégios eleitorais de Mato Grosso do Sul, Campo Grande e Dourados. De um lado, cristãos-novos do PL, o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro; de outro, a experiência e a tenacidade da senadora Tereza Cristina, do PP.
Conforme apuração do MS em Brasília, as articulações da senadora, líder do PP no Senado, junto ao presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e ao ex-presidente da República, maior liderança da legenda no Brasil, podem levar o partido a apoiar as reeleições da prefeita Adriane Lopes na capital e do prefeito Alan Guedes em Dourados.
Em Brasília, a parlamentar sul-mato-grossense teria tido reunião a portas fechadas com Valdemar Costa Neto antes de viajar para Madri, na Espanha, onde participou do evento organizado pelo Fibe (Fórum de Integração Brasil Europa).
Nesse encontro, que também teve a presença do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira, ficou acertado que o PL não lançará candidatos a prefeito em Campo Grande e Dourados, tendo a prioridade para, caso queira, indicar os candidatos a vice-prefeitos nos dois municípios.
Nesse encontro, ficou acertado que o PL não lançará candidatos a prefeito em Campo Grande e Dourados
O acerto entre as lideranças nacionais do PP e PL foi levado ao conhecimento de Jair Bolsonaro, que teria concordado e até ficou de vir a Mato Grosso do Sul para participar do anúncio oficial da aliança em Campo Grande e Dourados.
Na prática, Tereza Cristina driblou as lideranças locais do PL — os deputados federais Marcos Pollon e Rodolfo Nogueira e o suplente de senador Tenente Portela. Os três têm ocupado espaço na mídia, anunciando que o PL terá candidaturas próprias na capital e em Dourados.
No caso da capital, conforme Pollon e Portela, a missão deve ficar com o suplente de senador, que, na sexta-feira (10), anunciou que o deputado estadual João Henrique Catan e o ex-deputado estadual Rafael Tavares já não estariam mais no páreo, algo negado pelo primeiro, mas confirmado pelo segundo.
Dessa forma, Portela seria o único postulante ao cargo de pré-candidato a prefeito de Campo Grande pelo PL e, inclusive, já teria comunicado a Bolsonaro a decisão. Entretanto, João Henrique Catan promete ir até a convenção partidária para que a escolha seja pelo voto.
Tereza Cristina driblou as lideranças locais do PL — os deputados federais Marcos Pollon e Rodolfo Nogueira e o suplente de senador Tenente Portela
Em Dourados, segundo Rodolfo, a sua esposa Gianni Dias Aguilar Nogueira, atual secretária da comissão provisória municipal do partido, será a candidata a prefeita. Algo que nem os próprios bolsonaristas acreditam e dizem que o deputado federal estaria apenas fazendo jogo de cena para que a mulher seja a escolhida vice na chapa de Alan Guedes.
Rachado
Fato é que as disputas internas racharam o PL, que, no início do ano passado, quando Marcos Pollon assumiu o comando estadual da legenda, queria ser a única legenda da direita em Mato Grosso do Sul. Pouco mais de um ano depois, as principais lideranças da sigla não se entendem e, conforme fontes ouvidas pelo MS em Brasília, muitas nem se falam mais.
Uma dessas lideranças do PL seria o deputado estadual Coronel David, amigo de Bolsonaro e que ficou descontente com os rumos que o partido tomou em Mato Grosso do Sul. O caminho natural para ele é trocar de legenda e migrar para o PP de Tereza Cristina, que já abriu as portas para ele.
Fato é que as disputas internas racharam o PL, que, no início do ano passado, quando Marcos Pollon assumiu o comando estadual da legenda
Também não se pode convidar para a mesma mesa Pollon, Rodolfo e Catan, pois os três não se falam há tempos, dizem as fontes. Agora, o novo desafeto da vez é o Tenente Portela, que está sendo visto como um “traidor” ao passar por cima de Catan e Tavares na questão da candidatura do PL na Capital.
No caso de Rafael Tavares, o atrito com Portela ficou ainda mais evidente depois das declarações dadas ao Campo Grande News de que a pré-candidatura do ex-deputado estadual não foi bem-aceita pela direita.
Além disso, Portela reforçou que reúne as melhores características para ser candidato pelo principal partido de direita do país na capital, pois é referência de mediação de conflitos dentro da sigla, por ser um cumpridor de ordens e, claro, pela intimidade com o ex-presidente, de quem é amigo desde os anos 80.