ANTONIO CARLOS TEIXEIRA (*)
Não faço parte — nem poderia — da parcela chata de brasileiros que quer um Neymar perfeito, bom moço, que ofereça o outro lado da face para ser mais esbofeteado, ou que fosse visto indo à igreja com a Bíblia debaixo do braço em um domingo de folga. Os exemplos são diversos e poderíamos encher páginas com exigências do povo tupiniquim para, enfim, aceitar Neymar.
Contudo, sabe-se que a única torcida que está ao lado de Neymar há mais de 20 anos é a do Santos, clube onde ele apareceu para o futebol, após a geração Robinho, de 2002. Quantas angústias, tristezas e sofrimento o santista não viveu com (e por) Neymar!
Recordo-me de um grupo de santistas por e-mail, do qual eu fazia parte. Em abril de 2013, após Neymar ser vaiado em um amistoso do Brasil contra a Bolívia, no Mineirão, organizamos vaquinha para mandar fazer faixas em defesa do nosso menino, como o chamávamos. Foram espalhadas em toda a Vila Belmiro (ver fotos abaixo).
Daquele grupo lembro-me do Celso Pires, Zé Francisco, Carlos Cunha, José Carlos Peres, Henry Conde, Daniel Gonzalez, Décio Rangel, Márcio De Meo, Carlos Leite e tantos outros. Talvez Neymar nem saiba o nome de um único desses santistas, mas isso é insignificante. Não há diferença entre nós, pelo menos em relação à idolatria pelo menino.
Falo por mim: perdi a conta das vezes em que fui às redes sociais defender Neymar. Todo santista se sente ofendido quando jornalista recalcado ataca o Menino da Vila, o segundo maior jogador da história do Santos, atrás somente do maior de todos, Pelé.
Além das redes sociais, no longínquo ano de 2013, no dia 16 de abril, escrevi artigo para o Observatório da Imprensa rebatendo campanha de grande parte da crônica esportiva do país contra Neymar. Havia desejo de que ele fosse logo vendido. Não o queriam no Brasil. Sob o título “A cruzada da mídia contra Neymar” (ver aqui), pontuei comentários que considerei, à época, importantes para avalizar meu artigo.
Entre os profissionais que defendiam Neymar, naquela ocasião, estavam o saudoso Antero Greco, morto recentemente; o grandíssimo Alberto Helena Jr, sempre apaixonado pelo bom futebol; o comentarista da Jovem Pan Flávio Prado; e o santista Fabio Sormani, à época na Rádio Jovem Pan e blogueiro do Terra Esportes, de quem reproduzi trecho de um dos seus comentários:
“Neymar vai embora para a alegria dos torcedores rivais (o que é compreensível por conta da paixão clubística) e, volto a dizer, da mídia reacionária, que trabalha com a camisa do clube embaixo do paletó” — Jornalista Fábio Sormani
O menino tinha só 21 anos. E apanhou demais. Dentro de campo, com botinadas de marcadores violentos, e fora dele atingido por um bando de recalcados, como Casagrande, Juca Kfouri, Galvão Bueno, boa parte da turminha da ESPN e outros.
Bom, o leitor dessas mal traçadas linhas deve estar se perguntando: aonde esse moço pretende chegar?
Quero dizer que o santista compra qualquer briga por Neymar. Evidentemente que o flamenguista quer Neymar com a camisa do seu time; o corintiano igualmente. E o são-paulino, não queria nosso menino no Morumbi? Queria. O tricolor carioca, lá no seu íntimo, imagina Neymar com a camisa do Fluminense. Até os orgulhosos torcedores da dupla Gre-Nal sonham com o craque vestindo a camisa do seu clube.
Só que todas essas torcidas querem Neymar, mas vão torcer por ele somente se estiver com a camisa do seu time. Fora isso, rogarão praga para que quebre a perna e seja considerado incapacitado para o futebol. Essa é a verdade.
Quero dizer que o santista compra qualquer briga por Neymar
Daí a conclusão: a manutenção da idolatria do santista por Neymar só depende do próprio atleta. Se ele escolher outro destino, quebrará talvez uma das relações mais apaixonadas do futebol mundial. Se cumprir o que deixou registrado nos vestiários do Santos, em 26 de maio de 2013, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, “eu vou, mas eu volto”, Neymar repetirá simplesmente o Rei Pelé, que vestiu somente a camisa do Santos no Brasil.
Retornar à casa dele o tornará mais ídolo do que é, cujo fato repercutirá positivamente entre todas as torcidas. Sabe aquele coisa “ele não veio pra cá, mas também não foi pra lá”. Pode ter certeza de que o vascaíno prefere Neymar de volta ao Santos a vê-lo com a camisa do rival Flamengo e assim ocorre com todas as torcidas do Rio. O mesmo em relação à dupla mineira, Atlético e Cruzeiro, bem como a Internacional e Grêmio. O são-paulino, por exemplo, vai preferir que o craque retorne ao Santos a “suportá-lo” no Corinthians ou Palmeiras. Eis a verdade.
Neymar pode retornar ao Santos e logo depois estrear a Nova Vila Belmiro, palco dos maiores nomes do futebol mundial. Para que isso seja possível, é preciso que o atual presidente Marcelo Teixeira não repita o destrutivo Andrés Rueda. Além de rebaixar o clube, dormiu sobre o projeto por três longos anos.
O retorno ao Brasil do Menino da Vila, repito, o segundo maior da história — porque o primeiro não é somente o primeiro do Santos, ou do Brasil, é o primeiro do mundo, Pelé — não pode ter opções. Se quiser ser feliz completamente — e ter por perto os que o amam nos momentos bons e ruins — o menino não pode virar as costas para vestir outro uniforme que não seja a camisa branca mais sublime do planeta.
Isto vai doer em muita gente: Neymar vestirá de novo a camisa do Santos, dessa vez a número 10, para concluir uma das carreiras mais brilhantes do futebol mundial. Manter-se na minúscula lista de grandes jogadores que vestiram uma única camisa no Brasil, além a da Seleção, é tudo o que os recalcados não querem.
Neymar tem casa — a mesma do maior de todos, Pelé — e ela se localiza na Rua Princesa Isabel, S/N, Vila Belmiro, Santos (SP), CEP 11075-501.
(*) Torcedor e sócio do Santos, jornalista, assessor Receita Federal, pós-graduado em Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro pela Universidade Católica de Brasília (UCB); especializando-se em Criptoativos – Rastreamento, Ilícitos Criminais e Tributários (RFB).