COLUNA VAPT-VUPT (*)
“Em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão” é uma expressão que traz para o dia a dia entendimento de que a falta de algo – e não apenas de pão — pode causar brigas, discussões, mal-estares.
No caso específico, a família Trad começa a conviver com a escassez de cargos para os membros da prole do ex-deputado Nelson Trad, morto em dezembro de 2011. Os Trad vivem da política há mais de 60 anos. Embora todos tenham profissão, o fim de cada um deles sempre acaba em cargo público, com raras exceções.
Tanto que o próprio patriarca nomeou, nos longínquos anos de 1986, o filho Marquinhos Trad em seu gabinete, efetivado logo depois sem concurso público.
Pior: era funcionário fantasma no gabinete do pai, então deputado estadual. A prova é inequívoca: Marquinhos fazia faculdade no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que era lotado na Assembleia Legislativa.
Os Trad vivem da política há mais de 60 anos. Embora todos tenham profissão, o fim de cada um deles sempre acaba em cargo público
Fátima Trad Martins, filha de Nelson Trad e irmã de Nelsinho, Fábio, Marquinhos e Thereza, também foi funcionária da Assembleia Legislativa, nomeada pelo pai. Evidentemente. Ela se aposentou em 2015 com salários integrais, de R$ 13,6 mil, cuja remuneração deve ter dobrado de valor de lá para cá.
Dias atrás, contudo, houve discussão entre eles. Os irmãos Fábio Trad — ex-deputado federal e atualmente “neo petista”, inclusive com cargo no governo Lula (PT) a fim de manter o padrão de trabalho público da família — e Fátima discutiram nas redes sociais, em que sobrou até para Marquinhos Trad (PDT).
Fátima entende que Marquinhos cometeu “erro grave” e foi “mesquinho” ao renunciar à Prefeitura, a quem atribuiu a derrota do filho, Otávio Trad, para deputado estadual em 2022.
Na campanha, houve uma série de denúncias contra Marquinhos sobre o envolvimento dele em diversos crimes sexuais, inclusive com uso do gabinete no Paço Municipal para encontros amorosos. E mais para frente, acusado de participar de esquema que desviava recursos de obras da Prefeitura de Campo Grande.
De acordo com as investigações da Operação Cascalhos de Areia, parte do dinheiro desviado no esquema corrupto era usada para comprar imóveis ao então prefeito.
Fátima entende que Marquinhos cometeu “erro grave” e foi “mesquinho” ao renunciar à Prefeitura
A discussão pública, com direito a milhares de espectadores on-line, prontos para printar tudo, começou quando Fábio anunciou apoio ao irmão Marquinhos na disputa por uma vaga de vereador em Campo Grande. Otávio Trad (PSD) — filho de Fátima e sobrinho de Nelsinho, Fábio e Marquinhos — também é candidato a vereador.
Fábio Trad fez mensagem em que, além de declarar voto no irmão, tenta transformar Marquinhos em vítima nas eleições de 2022, desprezando fatos incontroversos denunciados à época. O conteúdo causou reação, primeiramente, de Letícia Trad, irmã de Otávio e sobrinha de Fábio: “E seu sobrinho?” Fábio minimizou: “Torço muito por ele. Muito. Um excelente vereador”.
Fátima entrou na conversa e foi objetiva, fazendo críticas à decisão do irmão Marquinhos de abandonar a Prefeitura de Campo Grande para disputar o Governo: “Otávio Trad foi vítima dos erros do Marcos Trad”.
E continuou: “Aliás, todos nós sofremos com a disputa de 2022, inclusive o Otávio por causa de um erro grave e mesquinho, renunciando Campo Grande”. E não parou por aí: “Aliás, já esperava de você seu conceito de família”. Irritada, concluiu: “Fique com sua escolha, Fábio. Lamentável”. Fábio se silenciou.
Há quem acredite que o fim da família Trad, politicamente, está próximo. O senador Nelsinho Trad (PSD) terá grandes dificuldades para se reeleger em 2026, enquanto Fábio Trad está praticamente alijado de algum processo eleitoral por ter se tornado um dos principais adversários do bolsonarismo em Mato Grosso do Sul.
Marquinhos Trad pode até seguir na política, mas em cargos menores. Isso se ele não for condenado na Operação Cascalhos de Areia, cujo rastro de corrupção deixado é de graves proporções.
Otávio Trad também se segura por conta do nome, mas logo estará também eliminado do processo político. Sobra à grande parte dos Trad o trabalho na área privada para fazer com que a política deixe de ser a principal fonte de renda para sustentar a família. Na democracia, é o eleitor que põe fim às dinastias políticas.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público