BRUNNA SALVINO, DE CAMPO GRANDE
Candidata a vereadora em Campo Grande, Ana Portela recebeu R$ 300 mil da direção nacional do PL. O montante equivale a 77% do valor de R$ 390 mil transferido até o momento para os 30 candidatos a vereador na capital pela agremiação que abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O privilégio à Ana tem explicação: ela é filha do Tenente Portela, presidente do diretório do PL em Campo Grande, e comanda o PL Mulher na cidade.
Procurado pelo MS em Brasília para explicar sobre o repasse milionário à filha na comparação com outros candidatos, o dirigente não deu retorno aos diversos pedidos de esclarecimentos feitos durante o dia de hoje.
Além da filha do Tenente Portela, o partido repassou R$ 50 mil à Missionária Josi e R$ 40 mil à Vivi Tobias, ambas candidatas a vereadora. Outros 27 candidatos não receberam ainda nem um centavo do diretório municipal, conforme apurado no sistema de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ana Portela recebeu, ao todo, R$ 310 mil em repasse e doações de campanha. Outros R$ 10 mil foram doados pelo empresário e produtor rural Jovani Batista da Silva, que teve o nome citado nas investigações sobre o suposto atentado contra o ex-deputado Loester Trutis (PL), também candidato a vereador.
Outros R$ 10 mil foram doados pelo empresário Jovani Batista da Silva, que teve o nome citado nas investigações sobre o suposto atentado contra Loester Trutis
Segundo relatório da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul, Silva era dono de um fuzil, apreendido na casa do então deputado federal, em novembro de 2020, durante a Operação Tracker. A ação foi autorizada pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República.
Trutis chegou a ser preso, mas foi solto após decisão da ministra Rosa Weber. O processo que investiga a suposta tentativa de assassinato do ex-deputado tramita no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. A PF garante que o atentado foi montado por Trutis e por seu ex-chefe de gabinete, também réu na ação.
Surpresa e perseguição
Candidata a deputada federal em 2022 pelo PRTB, Vivi Tobias concorre a uma das 29 vagas de vereador em Campo Grande pelo PL. “Fiquei surpresa com a falta de critério do presidente Portela”, declarou Tobias, que recebeu R$ 40 mil do partido.
Diz que questionou o dirigente sobre os valores que cada candidato recebeu. “Ele (Portela) disse que as planilhas foram feitas pela Terezinha Cândido, braço direito dele, que é cabo eleitoral da filha dele e faz campanha publicamente nos grupos”, relata.
Vivi Tobias acusa ainda Terezinha Cândido de pressioná-la para que fosse retirado do ar vídeo de apoio do ex-deputado e ex-candidato a governador Capitão Contar (PRTB).
“Ela também foi no meu perfil me questionar junto com outros apoiadores da Ana colocando em dúvida minhas pautas. Esse tipo de perseguição não é só comigo”, explica.
Tobias diz ainda que foi orientada a procurar o presidente nacional do PL, deputado Valdemar da Costa Neto, e o ex-presidente Bolsonaro, “dando a entender que foram eles que decidiram”.
O ex-deputado estadual Rafael Tavares também foi procurado, mas disse que não iria comentar o caso. Tavares tem divulgado que não usará recursos do fundo eleitoral na sua campanha para vereador.
Outro lado
O MS em Brasília também tentou contato com Ana Portela e Terezinha Cândido no diretório do PL em Campo Grande, mas não conseguiu. O espaço está aberto para manifestação tanto delas quanto a do Tenente Portela, presidente do partido na capital.