POR NÃO É IMPRENSA
O dia 5 de novembro jamais será esquecido porque não foi qualquer vitória. Trump deixou a presidência dos EUA, em janeiro de 2021, tendo sofrido impeachment.
Naquela ocasião, em meio à Covid-19, Trump parecia fadado à lata de lixo da História, sobretudo depois do 6 de janeiro, quando o então presidente insuflou a massa para invadir o Capitólio.
Para a esmagadora maioria dos veículos de imprensa dos EUA e mundo afora, aquele era o fim de Donald Trump.
Porém, as coisas não aconteceram do jeito que os jornais previam. Aliás, muito longe disso.
Não apenas Donald Trump se recuperou, como, no certame eleitoral de 2024, conquistou o voto popular, o que torna sua vitória ainda mais legítima do que 2016, quando havia vencido “apenas” no Colégio Eleitoral.
Se a leitura da imprensa fosse menos previsível neste ano, talvez a surpresa com esse resultado não fosse tão grande. Mas o que se provou, mais uma vez, é que o jornalismo político abraçou um lado de tal maneira que foi incapaz de mostrar as fragilidades de Kamala Harris, que, na melhor das hipóteses, teria chance se fosse construída como candidata ao longo do mandato de Joe Biden.
O que se provou, mais uma vez, é que o jornalismo político abraçou um lado de tal maneira que foi incapaz de mostrar as fragilidades de Kamala Harris
Biden passou quatro anos sendo cortejado pela imprensa e deixando até mesmo que outras figuras em sua administração tivessem protagonismo, como Anthony Blinken, porque tinha certeza de que ele, Biden, seria o candidato à reeleição.
Bastou um debate para que os democratas, capitaneados por George Clooney e Nancy Pelosi, tratassem o presidente como velho decrépito. Em poucos dias, Biden foi chutado como um cachorro sarnento.
Restou ao presidente a humilhação de ter de apoiar a vice, que, como se sabe hoje, jamais teve chance de vencer.
Mas como é possível dizer que ela jamais teve chance de vencer?
Porque Kamala Harris foi uma invenção da imprensa, açodada em vender boas notícias e de que a campanha de Trump estava desacorçoada com a “renovação democrata”. Os democratas, então, passaram a entoar o coro do etarismo, sugerindo, a partir daquele momento, que Trump era senil e incapaz.
Kamala Harris foi uma invenção da imprensa, açodada em vender boas notícias e de que a campanha de Trump estava desacorçoada com a “renovação democrata”
E Donald Trump? O Laranja tentava sobreviver. Literalmente. Antes da chegada de Kamala Harris na campanha, um balaço atravessou sua orelha; meses depois, seria alvo de outro atentado; e, por fim, seus seguranças tiraram de perto um sujeito que pretendia assassiná-lo.
Apesar disso, a imprensa dizia que Trump não tinha a menor chance. Agosto e setembro – os artigos, podcasts e vídeos estão aí para quem quiser assistir – foram os meses em que Kamala Harris foi presidente dos EUA, só faltando a confirmação do voto.
Pouco a pouco, porém, os institutos de pesquisa começaram a sugerir uma pergunta inconveniente: Se Kamala Harris vai tão bem, por que é que isso não se traduz em intenção de voto?
A verdade, que viria à tona neste 5 de novembro, era objetiva: Kamala Harris era uma incógnita para os norte-americanos. Ninguém sabia o que ela pensava. E a tentativa dos jornais, revistas, colunistas e do establishment hollywoodiano em normalizá-la só tornava as coisas ainda mais forçadas ao mesmo tempo em que sinalizavam que uma nova era estava se impondo.
A verdade, que viria à tona neste 5 de novembro, era objetiva: Kamala Harris era uma incógnita para os norte-americanos
A influência do aparato midiático e da indústria cultural junto ao público norte-americano tem suas limitações. É verdade que não se pode ignorar a força de Hollywood, mas acreditar que o vídeo dos atores dos filmes da Marvel ou que o Saturday Night Live podem provocar uma avalanche de votos parece, nesse momento, uma suposição estapafúrdia.
De igual modo, o jornalismo profissional, que, ao longo dos últimos oito anos, disse em reportagens, ensaios, artigos, editoriais que Trump era um monstro, está provando, mais uma vez, a revolta do público.
Indômita, a audiência parece dizer que não se importa com o jornalismo e com o braço armado das pesquisas de opinião, que até ontem garantiam que a disputa seria acirrada.
Como acreditar nas reportagens que vão denunciar os desmandos do governo Trump, sendo que a cobertura jornalística está marcada pelo partidarismo?
Como acreditar nas reportagens que vão denunciar os desmandos do governo Trump
Como resgatar a legitimidade de quem deveria fiscalizar o poder, mas, em vez disso, serviu de babá para um presidente, Joe Biden, que já demonstrava sérios problemas cognitivos?
Como absorver como legítima qualquer análise dos mesmos formadores de opinião que passaram semanas dizendo que Kamala Harris ganharia a eleição, sendo que em nenhum momento havia dados objetivos que apontavam para isso?
Quem passou os últimos meses acompanhando a cobertura da imprensa a respeito das eleições dos EUA sabe, no fundo, que não dá mais para confiar no jornalismo.
A vitória de Trump é o último parágrafo no longo obituário do jornalismo profissional.
E sabem de uma coisa? O jornalismo merece ter essa morte horrível. Descanse em paz.
“Não É Imprensa” é um site criado por diversos jornalistas para fazer contrapontos aos fatos apresentados pela mídia tradicional