COLUNA VAPT-VUPT (*)
“Muita gente por aí está falando que vai fazer isso, que vai fazer aquilo para ser eleito senador, mas, diferentemente dessa gente, eu já fiz e, portanto, tenho legitimidade para concorrer”.
A declaração literal, em tom de aflição, é do senador Nelsinho Trad (PSD). Ele usou o jornal Correio do Estado, de Campo Grande, para mandar recado a seus possíveis adversários na disputa por duas vagas ao Senado em 2026.
Manifestação despropositada, uma vez que qualquer cidadão tem direito de disputar eleição, desde que esteja filiado a um partido político e estar elegível, de acordo com a legislação eleitoral.
Na entrevista, Nelsinho trata com desprezo o interesse de outros vários pré-candidatos ao Senado. Literalmente, ele declara: “A preocupação é mais de quem vai concorrer comigo do que minha, pois tenho serviço prestado por todos os municípios do Estado e não tenho a fama de campeão de emendas sem merecimento”.
Nelsinho trata com desprezo o interesse de outros vários pré-candidatos ao Senado
A reeleição para o Senado é muito difícil. Os cenários mudam, os aliados e os adversários também. Some-se a isso o fato de o parlamentar passar oito anos sem concorrer a outro cargo.
Em 2018, por exemplo, o então senador Waldemir Moka (MDB) perdeu a reeleição para o próprio Nelsinho e para Soraya Thronicke (Podemos). Trad tinha apoio do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e Thronicke se escorava em Jair Bolsonaro (PL).
Apesar de estar em um grupo que teve de mudar o candidato a governador no meio da disputa, com a desistência da então senadora Simone Tebet (MDB), Moka tinha credenciais bem mais cristalizadas do que as que Trad deverá apresentar em 2026.
Eleito por diversos institutos que avaliam a atuação dos membros do Congresso entre os melhores parlamentares do país, o emedebista também chegou em 2018 como relator-geral do Orçamento da União, cargo cobiçado pelos 594 congressistas.
A reeleição para o Senado é muito difícil. Os cenários mudam, os aliados e os adversários também
Além disso, apresenta vida pregressa impecável e exemplar, sem nunca ter respondido a ações cíveis ou criminais. Mais: nunca teve seu nome envolvido em denúncias de corrupção.
Moka, contudo, não conseguiu se reeleger em decorrência do cenário que mudou, justamente, na última semana das eleições, quando era dado como um dos eleitos. A desconhecida Soraya, que aparecia em sexto lugar nas pesquisas, começou a crescer nos últimos dias.
O objetivo da direita local era evitar que Zeca do PT fosse eleito. Daí os pedidos de votos para Moka e Soraya, cuja campanha explorou o slogan “a senadora do Bolsonaro”, fraude que o eleitor não demorou a constatar.
Ao afirmar que não está preocupado, mas expõe isso em entrevista a um jornal, Trad demonstra insegurança quanto ao futuro: aparenta estar atormentado com a possibilidade de não ser reeleito.
Ao afirmar que não está preocupado, Trad demonstra insegurança quanto ao futuro
Outra questão que o aflige é sua ligação política e ideológica durante os oito anos no Senado. Além de ter votado várias vezes contra questões caras à direita, é filiado ao PSD, partido do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aliado do governo Lula e defensor de ministros do Supremo Tribunal Federal.
A sigla, por meio do presidente nacional Gilberto Kassab, também indica que estará no palanque de reeleição de Lula. O cenário, nesse caso, seria devastador para as pretensões de Nelsinho.
Para disputar as duas vagas, há diversos pré-candidatos, muito deles com credenciais que preocupam Trad, como o ex-governador Reinaldo Azambuja, cujas gestões no governo transformaram Mato Grosso do Sul.
O outro é o ex-deputado e candidato a governador em 2022 Capitão Contar (PRTB), que receberá apoio maciço da direita bolsonarista. Até o momento é o único pré-candidato que chegaria à disputa identificado como “bolsonarista”.
Para disputar as duas vagas, há diversos pré-candidatos, muito deles com credenciais que preocupam Trad
O deputado federal Vander Loubet seria o pré-candidato do PT. Ocorre que somente o eleitorado da legenda não tem densidade suficiente para eleger senador. Zeca sentiu essa dificuldade. E Delcídio do Amaral só chegou ao Senado porque era petista moderado, bem relacionado com a direita.
Há que se ter paciência e sobriedade quando se trata de discutir eleição para o Senado. Não é à toa que a Casa é chamada de câmara alta porque deve — ou deveria — abrigar mulheres e homens com temperança o bastante para manter o equilíbrio nas horas de maior necessidade.
(*) Vapt-Vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público