POR PRIMEIRA PÁGINA MS
A morte de Jorge José da Silva, de 47 anos, em uma área rural próxima ao distrito de Touro Morto, em Mato Grosso do Sul, pode estar relacionada à prática ilegal da ceva. A suspeita reacendeu o debate sobre o ato de alimentar felinos selvagens para atraí-los.
Para o biólogo Mário Haberfeld, fundador e CEO da ONG Onçafari, caso seja confirmada essa relação, o episódio precisa servir de alerta sobre os riscos do contato inadequado com a vida silvestre.
“Tudo indica, por áudios da família e de várias coisas que já apareceram na investigação, que lá ocorria a ceva. A ceva é quando você alimenta um animal selvagem, é importante falar que isso é proibido, é contra a lei aqui no Brasil, e acima de tudo isso é muito perigoso, não só para a pessoa que faz isso, mas para toda a região, porque o felino perde o respeito pelo ser humano”.

Além do impacto na segurança, a prática da ceva pode comprometer anos de trabalho em prol da convivência entre o ser humano e os grandes felinos.
Para Haberfeld, o ecoturismo de observação, quando realizado com responsabilidade, beneficia toda a cadeia: os animais, os fazendeiros e a população local.
“É um círculo virtuoso. A presença das onças, quando bem manejada, atrai turistas do mundo todo, gera emprego, valoriza a fauna brasileira e oferece uma nova fonte de renda para os produtores, além da pecuária, que é parte da cultura pantaneira”, disse.
“A presença das onças, quando bem manejada, atrai turistas do mundo todo, gera emprego, valoriza a fauna brasileira e oferece uma nova fonte de renda para os produtores” — Mário Haberfeld, biólogo
O biólogo, reforça que esse tipo de interação não tem relação com a ambientação realizada por equipes especializadas em ecoturismo.
“No caso do Onçafari e outros lugares do Pantanal, a gente faz sim uma habitação intencional à onça-pintada, ou seja, que ela perca o medo dos veículos, é importante falar isso, veículos ou barcos, mas não das pessoas. Quanto às pessoas, o ser humano não pode ter essa aproximação, é sempre com o carro”, explica Haberfeld.

Mário também explica que, se confirmada a responsabilidade do animal, a captura da onça é a medida correta a ser tomada.
“É importante sim capturar essa onça e tirar da natureza e é isso que é feito no mundo inteiro. Com leões na África, quando esse tipo de coisa acontece, e é muito mais comum do que ataques de onça no Brasil, esses leões são mortos. Já na Índia, os tigres são capturados e ficam num centro de reclusão para o resto da vida.”, explicou.
“É importante sim capturar essa onça e tirar da natureza e é isso que é feito no mundo inteiro” — Mário Haberfeld
No entanto, o biólogo reforça a raridade de ataques de onça a humanos no Pantanal, já que os felinos não veem o ser-humano como presas.
“As onças, os grandes felinos têm um grande respeito pelo ser humano, nós não somos parte do cardápio, não somos presas”.
Ataque
Três dias depois da morte do caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, a PMA (Polícia Militar Ambiental) capturou a onça-pintada que teria atacado a vítima. O animal, de 94 quilos, foi localizado na madrugada de quinta-feira (24), a poucos metros da residência onde a vítima morava, no Touro Morto, Pantanal de Aquidauana.

A onça-pintada está em atendimento veterinário no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) em Campo Grande.
De acordo com o boletim, o animal apresenta desidratação, alterações hepáticas, renais e gastrointestinais.
A onça, um macho de aproximadamente 9 anos e com 94 quilos, está bem abaixo do peso. Ela está em um recinto com grades, e seguro para receber o animal e para o adequado manejo realizado pelos veterinários.