De Brasília
O deputado federal Loester Carlos de Souza (PSL-MS), o Trutis, escancarou seu desrespeito à legislação sobre uso de recursos públicos ao gastar R$ 38.825,30 da cota parlamentar com aluguel de uma casa onde morou a ex-mulher e os filhos, em Campo Grande.
Ao utilizar verba pública em benefício próprio, para despesas particulares, o parlamentar comete crime de peculato, com pena de dois a 12 anos de prisão e multa. O caso é um dos mais ousados sobre uso irregular de dinheiro do contribuinte, segundo apurou o MS EM BRASÍLIA.
De acordo com o Portal Transparência da Câmara dos Deputados (ver quadro com os pagamentos detalhados), o parlamentar usou o dinheiro para pagar oito meses de aluguel do imóvel, de alto padrão, entre fevereiro e setembro deste ano. O valor médio da locação é de R$ 4.900.
Durante esse período, Loester Trutis também pagou, com dinheiro da Câmara, aluguel do escritório político em Campo Grande, de R$ 3.375, totalizando R$ 59 mil em oito meses com os dois imóveis.
Criada pelo Ato da Mesa 43/2009, a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar destina-se a custear gastos exclusivamente vinculados ao exercício do mandato, como manutenção de escritório de apoio: locação de imóveis, pagamento de IPTU, condomínio, energia, água e telefone.
Surpresa
O caso pegou de surpresa até mesmo a família do parlamentar. Pessoa próxima ao ex-casal conta que a ex-mulher desconhecia o uso de dinheiro público para pagar o aluguel do imóvel, com cerca de 300 metros quadrados, localizado em bairro de classe média da capital.
“O Trutis dizia que estava tirando o aluguel do salário e que, por isso, ela (ex-esposa) tinha que sair da casa e procurar outra mais barata. Estamos envergonhados”, afirmou a fonte, cuja identidade o MS EM BRASÍLIA manterá em sigilo para garantir a segurança da ex-mulher e dos três filhos.
Gastos irregulares
Em 20 meses de mandato, Trutis torrou R$ 762 mil da cota parlamentar, um dos três que mais utilizam o benefício entre os integrantes da bancada federal. O valor é elevado para quem tomou posse no cargo anunciando que “a mamata tinha acabado”.
Em janeiro de 2020, por exemplo, ele gastou R$ 7.455 para pagar passagens aéreas à namorada e então assessora Raquelle Lisboa Alves (ver aqui), durante o recesso parlamentar, o que é proibido pela Casa.
Trutis também pagou valores entre R$ 30 mil e R$ 35 mil a um escritório de advocacia de Campo Grande como consultoria jurídica, totalizando R$ 330 mil em 11 meses (ver matéria). Atualmente, os maiores gastos do deputado com cota parlamentar são com aluguel de veículos, média de R$ 10 mil por mês.
Falso atentado
No início de novembro, Loester Trutis foi preso na Operação Tracker, desencadeada pela Polícia Federal para investigar o atentado a que teriam sido vítimas o deputado e seu chefe de gabinete, Ciro Nogueira (ver aqui).
O suposto crime ocorreu em 16 de fevereiro deste ano, um domingo cedo, quando Trutis se deslocava de Campo Grande para Sidrolândia. O veículo Toyota Corolla em que estava foi atingido por vários disparos de arma de grosso calibre.
Após oito meses de investigações, a PF de Mato Grosso do Sul concluiu que o atentado foi forjado pelo deputado e assessor, cujo roteiro foi comparado a comédias pastelão de Hollywood.
O inquérito foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República e de lá para o Supremo Tribunal Federal, onde tramita sob a relatoria da ministra Rosa Weber. Autoridade ouvida pelo MS EM BRASÍLIA garante que as provas são robustas, inapeláveis e tecnicamente incontestáveis.
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