CAMPO GRANDE
Em março de 2006, a deputada federal Ângela Guadagnin (PT-SP) se levantou da cadeira, à esquerda do plenário da Câmara dos Deputados, e dançou para comemorar a absolvição do deputado e amigo João Magno (PT-SP), acusado de ter recebido dinheiro do Mensalão, esquema montado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comprar apoio no Congresso Nacional.
Estava eternizada no país a “dança da pizza”, imagem que constrangeu parte dos políticos, revoltou a população e correu o mundo como símbolo do desprezo pelo cargo e da impunidade.
Dezesseis anos depois, dois vereadores de Campo Grande protagonizaram cenas semelhantes, com coreografias mais audaciosas, rebolados até o chão, dedo na boca e muito mais. Palco: plenário da Câmara de Vereadores. Coincidentemente, representantes da esquerda e da direita sul-mato-grossense.
O escárnio veio justamente dos vereadores que se destacaram nas eleições de 2020. Tiago Vargas (PSD), 33 anos, foi o mais votado, depois de ter sido expulso da Polícia Civil por ter cometido dezena de atos de indisciplina. Perdeu o cargo na polícia, mas ganhou o de representante da população campo-grandense. Foi o primeiro a rebolar na cara do eleitor.
Camila Jara, 26 anos, elegeu-se pela primeira vez a um cargo público em 2020, com bandeiras tradicionais do PT. Em junho deste ano, divulgou fake news que mobilizou a classe política no Estado e parte da população. Em vídeo, anunciou que “pediram” ao Ministério da Saúde para que 3 milhões de doses da vacina Janssen fossem enviadas a Mato Grosso do Sul. Seria o primeiro Estado a imunizar totalmente a população. Na verdade, não houve qualquer intenção do Ministério da Saúde de enviar a vacina para um único Estado. Fake news que a projetou.
“O escárnio veio justamente dos vereadores que se destacaram nas eleições de 2020”
Para “segurar” os dois parlamentares na cadeira, a Câmara Municipal de Campo Grande aprovou em regime de urgência terça-feira (30) projeto de resolução que altera o Regimento Interno e pune com suspensão temporária do mandato realizar “atividades diversas das atribuições de parlamentar”, informou o site de notícias Campo Grande News, parceiro do MS em Brasília.
“Na semana passada, o vereador Tiago Vargas (PSD) publicou um vídeo na rede social Instagram em que aparece dançando no espaço reservado aos parlamentares. Já no dia 16, Camila Jara (PT) dançou no espaço próximo ao auditório do plenário”, descreve o site.
O presidente da Casa, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), havia adiantado ao Campo Grande News que mudaria o regimento. Carlão considerou as dancinhas como “fato grave”. Ao site afirmou: “Não estamos lá para dançar, mas para lutar por melhorias para o povo”.
De acordo com o Campo Grande News, Jara dançou contra “negacionistas, bolsonaristas e direitistas”. Já Vargas para celebrar que era sexta-feira. Que, nas próximas eleições, ambos dancem nas urnas. Escárnio que não pode ficar barato.