(*) Antonio Carlos Teixeira publicação original em 03/09/2019
Esta proposta foi elaborada antes que o presidente do Santos, José Carlos Peres, anunciasse nesta semana o desejo do clube em homenagear Pelé com uma coroa negra em cima do escudo. Segundo o presidente, houve conselheiro que chegou a afirmar que “Pelé não é maior que o Santos”. Declaração que assusta. A minha proposta, então, seria abominada por alguns conselheiros, mas vou apresentá-la mesmo assim. Quem sabe daqui 50 anos, 70 anos, meus netos e bisnetos não estejam comentando sobre essa ideia e até dizendo que “Meu avô (bisavô) sugeriu décadas atrás o que uns estão propondo hoje”.
Uma das maiores personalidades mundiais, Pelé está na galeria dos grandes homens e das grandes mulheres que deixaram suas marcas durante o tempo em que tocaram seus pés neste planeta. Pelé tem quase o mesmo significado, o mesmo valor, do personagem mais famoso dos desenhos animados de Walt Disney, Mickey Mouse.
É o homem, em carne e osso, igualando-se a um nome de ficção. Pelé atingiu esse nível por ter sido um atleta perfeito. Correu atrás de metas e, em consequência, marcas foram conquistadas. Tudo o que vier a ser feito a partir de agora, como homenagens e tributos, não vai mudar seu status.
Pelé virou sinônimo de meta a ser atingida como o melhor de sua área: o Pelé da Medicina, o Pelé das Artes, o Pelé da Ciência, o Pelé do Jornalismo, o Pelé da Engenharia e tantas outras referências e qualificações sobre alcançar a glória pelas virtudes, estar situado no mais alto patamar da profissão que exerce ou do esporte que pratica. Pelé fez mais do que eternizar a camisa 10 mundialmente. Ele mudou o futebol.
Futebol, Santos e Pelé
Santos, Pelé e futebol são algo indissociável. Falar em Pelé sem fazer referência à cidade de Santos e ao time do Santos é a mesma coisa que tentar narrar a história sobre o Paraíso, o primeiro lar da humanidade, citando somente Adão ou Eva. Ou mesmo falar de Simon sem Garfunkel, do Vaticano sem Papa, de Pelé sem a bola. Ou ainda fazer menção a Oscar Niemeyer sobre a construção de Brasília, esquecendo-se de Lúcio Costa.
Necessário, pois, acentuar que tudo o que for escrito sobre Pelé vai parecer pouco diante do tamanho do futebolista Edson Arantes do Nascimento Bola, já que ele entende (entende, né) que a palavra “bola” devia compor seu nome.
A importância de Pelé para o futebol mundial está registrada, por exemplo, no prêmio “Profissional que transformou o futebol”, entregue a ele em 1999 pela revista Sports Illustrated, dos Estados Unidos. Escolha feita por jornalistas de vários países. Há também a eleição como “Atleta do Século” por jornalistas do mundo todo, pesquisa realizada pelo jornal L’Équipe em 1981. Ou ainda o título de “Melhor jogador do Século”, segundo a Fifa, em 2000. As homenagens e tributos a Pelé são intermináveis.
O binômio Santos-Pelé talvez não precise de mais nada, diante de tamanha solidez e identificação na relação entre dois. São louváveis, contudo, todas as propostas apresentadas para homenagear o Rei Pelé em vida. Cada qual com seu simbolismo. E não está em disputa escolher a ideia mais bem elaborada, muito menos a que reunir mais argumentos, a “legalzinha”, a “simpática”.
Seja qual for a proposta aprovada, o Santos Futebol Clube prestará homenagem merecida àquele que, conforme prêmio entregue pela revista norte-americana Sports Illustrated, “transformou o futebol”.
A proposta
Pelé é sinônimo de futebol e vice-versa. Duas palavras indissociáveis, assim como o é Santos-Pelé. Quando se fala em uma, lembra-se da outra. Futebol, substantivo masculino. 1. Esporte, cujas partidas são disputadas por duas equipes de 11 jogadores, em que é proibido (exceto aos goleiros, quando dentro da sua área) o uso dos braços e mãos, e cujo objetivo é fazer entrar uma bola no gol do adversário. 2. Pelé.
A ideia é esta: o Santos deve pensar em algo maior a fim de marcar, para sempre, sua relação com o mito Pelé. Se Pelé é sinônimo de futebol e futebol sinônimo de Pelé, esta proposta propõe que o clube passe a incorporar no seu dicionário a palavra “Pelé” como sinônimo de “futebol”.
Onde houver a palavra “futebol” em documentos do clube, como o Estatuto, ela será substituída pelo sinônimo “pelé”. A mudança mais significativa, com isso, será em relação ao nome do clube. O Santos terá dois nomes oficiais: o tradicional, Santos Futebol Clube, e o novo, Santos Pelé Clube.
É a proposta que, definitivamente, homenageará o maior de todos, de forma diferente de todas as outras conhecidas. Pelé, no entendimento do Santos, seu primeiro e único clube no Brasil, substitui a palavra “futebol” no nome oficial do clube por ser sinônimo um do outro.
Essa homenagem não exclui qualquer outra que o Conselho Deliberativo do Clube vier a aprovar, como a colocação da Terceira Estrela Negra, uma coroa no zero da camisa 10, ou mesmo a imagem do Rei ocupando o lugar da bola no escudo, entre outras sugestões.
A proposta é bem clara: “Dispõe sobre a incorporação do sinônimo Pelé quando se estiver referindo a futebol”. Além do nome da instituição, todos os documentos e escritas que forem usar a palavra “futebol”, no âmbito do clube, terão que ser substituídos pelo novo sinônimo “pelé”.
Exemplo: Departamento de Futebol Feminino daria lugar a Departamento de Pelé Feminino, ou mesmo Diretoria de Futebol passaria a ser Diretoria de Pelé. Minúsculo quando estiver fazendo a vez de “substantivo masculino” e maiúsculo quando se referir ao “substantivo próprio” Santos Pelé Clube.
A decisão do Santos repercutirá internacionalmente diante da amplitude do tributo, que se afastaria do lugar-comum, com a consequente inclusão da palavra “pelé” como sinônimo de “futebol” no “dicionário do clube”. Embora, claro, a ideia não seja essa e sim a de prestar homenagem a Pelé.
E, assim, o “Santos Pelé Clube” marcaria seu espaço na história do futebol mundial, onde é sobejamente conhecido e reconhecido. Seria o registro, para sempre, da relação mais impressionante entre um clube e um atleta nesse esporte.
(*) Antonio Carlos Teixeira, jornalista, assessor da Receita Federal em Brasília, sócio do Santos nº 48.159
(**) Artigo publicado, originalmente, em 03/09/2019