A Secretaria de Segurança Pública (Sejusp) confirmou no final da tarde de ontem (20) a instauração de inquérito policial para apurar denúncias de assédio sexual contra o ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD) formalizadas por três mulheres na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Mato Grosso do Sul (DEAM).
Essa não é a primeira vez que o político, hoje pré-candidato a governador do Estado, responde por esse tipo de crime. Em 2018 ele foi investigado pelo Tribunal de Justiça, informa o jornal Vox MS.
Para se certificar de que de fato se trata de denúncia formal, já que Marquinhos Trad afirmou a diversos órgãos de imprensa que se tratava de fake news por conta do “desespero [dos adversários] porque estamos aparecendo em primeiro nas pesquisas”, o jornal Vox MS encaminou à Sejusp pedido de esclarecimentos.
Em nota, a Secretaria informou que “existem procedimentos policiais que tramitaram em 2018 na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA) e que à época foram remetidos ao Poder Judiciário, e procedimento [atualmente] em curso na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), que assim que concluído será remetido ao Poder Judiciário e Ministério Público, uma vez que o ex-prefeito não detém foro privilegiado”.
A menção ao foro privilegiado diz respeito a denúncias feitas à DEPCA em 2018, já que as supostas vítimas eram menores de idade. Na condição de prefeito, Trad só poderia ser investigado pelo Tribunal de Justiça, o que de fato aconteceu, tendo sido o procedimento arquivado. Não há informações sobre o processo em função do fato de o mesmo ter tramitado sob sigilo. Naquele ano não houve disputa eleitoral.
Na nota, a Sejusp informa ainda que “os procedimentos ou tramitaram ou tramitam sob sigilo em face da natureza dos fatos, motivo pelo qual não é possível dar detalhe sobre os casos. As investigações seguem o curso normal de qualquer apuração em que figurem como vítimas mulheres, crianças ou adolescentes”.
Mídia nacional
As denúncias contra Marquinhos Trad vieram a público ontem por meio de matéria publicada no site Metrópoles pelo jornalista Guilherme Amado (ver aqui), que teve acesso aos boletins de ocorrência com as queixas prestadas pela quatro mulheres. A delegada responsável pelo caso, Maira Pacheco Machado, disse que os procedimentos atuais também seguem sob sigilo.
Relações no gabinete
As autoras das denúncias têm em comum o fato de serem pessoas humildes que em busca de emprego acabaram sendo vítimas de assédio por parte de Marquinhos Trad, uma delas dizendo que teria chegado a transar com o político em seu antigo gabinete na prefeitura.
Segundo o Metrópoles, uma delas, identificada como Ana (nome fictício, assim como os demais mostrados nesta reportagem), teria dito que Trad a levou ao banheiro do gabinete, tentou beijá-la, levou sua mão ao corpo dele, inclusive tentou passar a mão dela no órgão genital dele. Segundo a mulher, o candidato desistiu após ela ter se negado a manter relação sexual.
Já no depoimento de Carla, esta disse que sofreu assédio de Trad alguns meses após terminar a relação consensual e extraconjugal que tinha com o ex-prefeito. Em 17 de junho, argumentou a mulher, ele teria tentado beijá-la forçadamente no comitê de campanha dele.
A terceira mulher, Patrícia, fez um depoimento parecido com o de Carla. A única diferença das versões seria que Patrícia disse que o candidato ao governo não teria aceitado usar preservativo durante o ato sexual consentido mesmo diante dos pedidos dela.
Patrícia teria declarado ainda que foi quatro vezes ao gabinete de Trad após receber promessas de emprego dele — que nunca se concretizaram — e as relações sexuais teriam ocorrido nessas ocasiões.
Por fim, a quarta depoente, Rebeca, disse que nunca viu Trad pessoalmente, mas seu depoimento tenta reafirmar as declarações de Patrícia e Carla.
CPI do Gabinete do Assédio
No final da tarde de ontem, o vereador Marcos Tabosa (PDT) informou que diante da gravidade das denúncias irá solicitar ao presidente da Câmara Municipal, vereador Carlos Borges, o Carlão, a suspensão do recesso parlamentar para que as acusações contra Marquinhos Trad sejam investigadas na CPI do Gabinete do Assédio, cuja instalação ele irá requerer ainda nesta quinta-feira.
Apesar de não estar mais no cargo de prefeito, Marquinhos Trad pode ser alvo da CPI em virtude do fato de os supostos crimes terem sido praticados em pleno exercício do mandato.
Político nega
À imprensa, Marquinhos Trad negou todas as acusações. “Uma tentativa covarde, rasteira. Estão desesperados porque estamos em primeiro nas pesquisas, mas não conseguirão mudar a vontade da população de dar um basta nesta gente que administra pensando nos próprios interesses e é capaz de tudo para conseguir o que quer. Já tentaram isso em 2020 e a própria polícia considerou uma armação”, disse.
“Sigo com ainda mais vontade de trabalhar por nossa gente, corrigir injustiças, combater desigualdade. Pena os inúmeros casos de corrupção que fazem parte deste e do governo passado não merecerem tanto destaque, ainda que tenham custado vidas e milhões de reais dos cofres públicos”, finalizou.