BRASÍLIA
Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o deputado federal Loester Carlos Gomes de Souza, o Trutis (PL), pelo suposto atentado que ele teria sofrido em 20 de fevereiro de 2020. O ex-chefe de gabinete de Trutis Ciro Nogueira Fidelis também responderá pelos mesmos crimes.
Os dez ministros foram favoráveis ao parecer da ministra Rosa Weber, relatora do inquérito, pelo recebimento da denúncia. Com isso, o parlamentar responderá no mesmo tribunal por falsa comunicação de crime, porte ilegal de arma e disparo de arma de fogo. As penas máximas para esses crimes, somadas, atingem a oito anos e seis meses.
A sessão virtual foi concluída nesta segunda-feira, 15. O próximo julgamento, que pode levar o deputado à condenação e à possível cassação do mandato, ainda não tem data definida.
Candidato à reeleição, Trutis pode ser condenado à prisão e ficar inelegível por até oito anos. Se conseguir se reeleger, não deverá ser diplomado pela Justiça Federal.
O atentado
O suposto atentado contra o deputado Loester Trutis e seu chefe de gabinete, Ciro Nogueira Fidelis, teria ocorrido em 16 de fevereiro de 2020, quando eles viajavam de Campo Grande para Sidrolândia.
O parlamentar denunciou a suposta tentativa de assassinato à Polícia Federal, que abriu investigações imediatamente. Durante o trabalho, a PF entendeu que não houve atentado e que Trutis e seu assessor teriam forjado o suposto crime.
As autoridades chegaram a essa conclusão após minucioso trabalho da perícia no local onde teria ocorrido o ataque, no veículo utilizado pelo parlamentar, além do rastreamento do GPS do carro, aparelhos de celular das vítimas, entre outras provas.
O parecer
Em seu relatório e voto, de 34 páginas, a ministra Rosa Weber concluiu que “os argumentos trazidos pela defesa não são suficientes para, nessa fase procedimental, desqualificar a base empírica reunida no curso da investigação, a qual dá suporte aos enunciados fáticos formulados na tese acusatória”.
Weber afirma que a hipótese investigatória inicial foi testada em seus limites, não tendo surgido qualquer indício de que o alegado atentado contra a vida do parlamentar pudesse ser motivado por causas pessoais, estranhas à função pública por ele exercida. “Excluída a linha inicial de investigação, não emergiu qualquer outro elemento indicativo de uma terceira hipótese, que pudesse apontar, por exemplo, erro de execução, erro sobre a pessoa etc”, reforça.
Ao invés disso – acrescenta a relatora — contrariedades e inconsistências da versão inicial dos fatos, assim como a exploração pública do episódio utilizando perfil em rede social mantida pelo parlamentar para a interlocução com seu eleitorado e com a comunidade em geral, levaram à suspeita de que o atentado contra a sua vida pudesse ter sido simulado com o escopo de capitalizar politicamente os acontecimentos pela “vítima”.
Defesa
O site Primeira Página, de Campo Grande, Trutis se defendeu quando o placar estava 2 a 0 contra ele: “A gente acha que houve uma série de erros no inquérito policial como sumiço de provas, reforma do carro que deveria ter sido preservado, a formatação do GPS, vários fatores que induziram à relatora Rosa Weber ao erro e o voto de hoje do Alexandre de Moraes a gente já esperava por acreditar que exista um certo ativismo judiciário contra os deputados bolsonaristas. Veja o que acontece com o próprio Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, com o Flávio [Bolsonaro], com a Carla Zambelli, com o próprio presidente Bolsonaro, com o Silveira e agora eu. Mas eu acredito que nem torne réu porque faltam todos os outros ministros para votarem. Mas caso isso aconteça, a gente vai ter a chance de apresentar as provas desse absurdo já que nessa fase do processo a gente não tem esse requisito do processo ainda. A própria Rosa Weber descrever no final do voto dela, que o fato dela querer que eu me torne réu não significa que ela acredita no mérito do processo e, sim, que tudo deve ser averiguado nos mínimos detalhes, inclusive as denúncias que a gente fez sobre os sumiços de provas e do cunho político que o processo tomou”.