CAMPO GRANDE
A maioria das pesquisas eleitorais para medir a intenção de voto do sul-mato-grossense nas eleições de 2022 traz erros técnicos de tamanha magnitude, que se torna impossível não desconfiar delas e das empresas que a produzem.
Na verdade, os institutos de pesquisa que pululam por essas plagas não estão interessados em mostrar números confiáveis, contribuindo para que o eleitorado conheça o cenário político, sem distorções, e escolha seu candidato com o mínimo de segurança. Cumprem apenas o contrato acertado com determinado partido ou coligação a fim de atendê-lo.
O Brasil é um país democrático, cujos representantes são, felizmente, escolhidos pelo voto direto. No entanto, a escolha pela população pode sofrer influência de levantamento tendencioso, malfeito ou mesmo divulgado de forma a favorecer candidato A ou B. Tudo isso é possível.
Dito isso, impossível considerar normal que determinado candidato ao governo, cuja campanha alcançou seu viés de alta justamente nesse momento, caia dois pontos percentuais e se distancie ainda mais dos líderes, no caso André Puccinelli (MDB) e Marquinhos Trad (PSD). Não houve razões, digamos, para que o candidato Eduardo Riedel (PSDB) caísse, mesmo dentro da margem de erro.
Na pesquisa do IPEC (antigo Ibope), o “viés de alta” de Riedel não só refreou, como recuou. O crescimento consistente sumiu. Capitão Contar (PRTB) também caiu. Ao mesmo tempo, Marquinhos Trad, o rival com o maior viés de queda entre os postulantes ao cargo, em decorrência das acusações de crimes sexuais, caiu “apenas” três pontos. Essa é a mágica de certas pesquisas: fazer desaparecer cenários reais, dando lugar a situações imaginárias.
Essa é a mágica de certas pesquisas: fazer desaparecer cenários reais, dando lugar a situações imaginárias
O levantamento do IPEC, divulgado pela TV Morena quinta-feira (15), é prova irrefutável de que o Brasil enfrenta caos nas pesquisas eleitorais, cada vez mais suspeitas, longe de apontar cenários confiáveis. A abrangência dos levantamentos feitos pelo Ibope em Mato Grosso do Sul sempre foi cercada de polêmica. Resume-se a Campo Grande e região, e Dourados e região.
Na pesquisa de quinta-feira, houve comparativos entre os candidatos em um eventual segundo turno. Foram feitas simulações entre os cinco concorrentes mais bem colocados. No entanto, ficaram de fora a petista Giselle Marques, o psolista Adonis Marcos e Magno de Souza, do PCO, cuja candidatura foi impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Já deve haver, certamente, coligação ou coligações buscando a impugnação dessa pesquisa na Justiça Eleitoral, o que não diminuiriam os prejuízos aos sul-mato-grossenses, cuja capacidade de avaliação dos concorrentes é sempre prejudicada pelas tentativas dos próprios candidatos de fraudarem a realidade, “comprando” números que os satisfaçam.
O que se nota é que cada candidato tem a sua pesquisa. Parece surreal, mas é fato. Cada qual encomenda o seu levantamento e dá publicidade de alguma forma. Uns têm parceria com determinado veículo de comunicação; outros tentam espalhar a informação, sem “parcerias fechadas” a fim de alcançar maior número de pessoas.
O que se nota é que cada candidato tem a sua pesquisa. Parece surreal, mas é fato
Antes tido como indicador confiável do eleitor, a pesquisa hoje serve apenas como instrumento de marketing para candidatos manterem a militância empolgada. Deixou de servir de termômetro para o eleitorado, cuja desconfiança aumentou significativamente nos últimos anos no Brasil e em Mato Grosso do Sul.
A intenção de voto nas democracias modernas carece de estudos mais aprofundados. Mais do que isso, exige que Congresso Nacional e a Justiça Eleitoral imponham medidas mais duras a fim de punir empresas que produzem números para mudar a realidade. Trabalho sempre bem pago, mas nem sempre honesto.